SÃO PAULO (Reuters) - A criação de postos de trabalho desacelerou em março devido ao Carnaval, mas a massa salarial ganhou força e o nível de desemprego no Brasil se manteve nas mínimas históricas, aumentando a pressão sobre o Banco Central na véspera de importante decisão sobre o juro.
Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na manhã desta terça-feira, mostraram que a taxa de desemprego no país aumentou de 6,4 para 6,5 por cento na passagem de fevereiro para março.
Além de o aumento ter vindo menor do que o esperado pelo mercado --6,7 por cento, segundo economistas consultados pela Reuters--, o dado ficou no menor patamar para o mês na série histórica iniciada em 2002.
Mais tarde, o Ministério do Trabalho reportou a criação de 92.675 vagas líquidas de trabalho formal no mês passado, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foi um ritmo bem menor do que o observado nos primeiro bimestre do ano, quando foram criados quase meio milhão de postos.
O ministro Carlos Lupi atribuiu a desaceleração aos feriados de Carnaval, antecipou que os números de abril devem ser muito fortes e manteve a previsão de que surjam 3 milhões de vagas adicionais este ano.
"Hoje eu não estou vendo ainda o mercado de trabalho brasileiro desaquecido", afirmou Lupi.
Em março, porém, houve 1.673.247 desligamentos, o maior da série do Caged. Essas baixas foram compensadas pela criação de 1.765.922 vagas, o terceiro maior da medição histórica.
Os relatórios chegam no primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que na quarta-feira à noite anuncia o rumo da Selic, hoje em 11,75 por cento ao ano.
O mercado de trabalho é uma das variáveis econômicas que estão sendo monitoradas pelo governo, por suas implicações sobre a inflação. Para combater a inflação alta, o Copom já subiu o juro duas vezes este ano. Além disso, o BC tomou medidas para desacelerar o ritmo de expansão do crédito.
Mais do que empregos, no entanto, o que para analistas pode acrescentar pressão sobre os preços é o aumento da massa salarial, que pode dar mais combustível para o consumo, que é justamente o que o governo quer segurar.
E nesse quesito os números do IBGE também indicam alerta, já que o rendimento médio real do trabalhador em março subiu 3,8 por cento na comparação anual, para o maior valor para março desde 2002.
"O BC está contando com uma forte desaceleração do crédito para limitar o ritmo do consumo. Mas como o mercado de trabalho segue forte, a demanda por crédito pode continuar forte e ofuscar parte do efeito das medidas do governo", disse o Barclays Capital, em relatório.
Também nesta terça-feira, a Receita Federal informou que a arrecadação federal cresceu 11,96 por cento no primeiro trimestre, na comparação anual, acelerando em relação ao movimento do ano de 2010.
Para o HSBC, a pressão aumenta para o que o BC adote mais medidas para segurar a inflação, que está perto do teto da meta do governo. Na quarta-feira, o IPCA-15 deve apontar alta de 0,77 por cento em abril, segundo analistas ouvidos pela Reuters, o que levaria a taxa acumulada em 12 meses para cerca de 6,4 por cento.
"Acreditamos que os últimos dados sobre o mercado de trabalho reforçam a necessidade de o Banco Central de elevar a taxa Selic por 50 pontos na quarta-feira", disse o HSBC, em relatório.
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